segunda-feira, 26 de julho de 2010

Insiste, Persiste e não desiste...

Às vezes é preciso aprender a perder,
a ouvir e não responder,
a falar sem nada dizer,
a esconder o que mais queremos mostrar,
a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar.


Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias,
usar a cabeça e esquecer o coração,
dizer tudo o que se tem para dizer, 
não ter medo de dizer não, 
não esquecer nenhuma ideia, 
nenhum pormenor, 
deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a dizer.


E mesmo que a voz trema por dentro,
há que fazê-la sair firme e serena, 
e mesmo que se oiça o coração bater desordenadamente fora do peito é preciso
domá-lo, 
acalmá-lo, 
ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, 
e esperar, 
esperar que ele obedeça, 
que se esqueça, 
apagar-lhe a memória, 
o desejo, 
a saudade, 
a vontade.


Às vezes é preciso partir antes do tempo, 
dizer aquilo que se teme dizer, 
arrumar a casa e a cabeça,
limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, 
acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto,
apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um deus qualquer que nos dê força e serenidade. 


Pensar que o tempo está a nosso favor, 
que o destino e as circunstâncias de encarregarão de atenuar a nossa dor
e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim.


Às vezes mais vale desistir do que insistir, 
esquecer do que querer,
arrumar do que cultivar, 
anular do que desejar. 
No ar ficará para sempre a dúvida se fizémos bem,
 mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, 
somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, 
mais simples, mais leve, melhor.


Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, 
deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero,
bater com a porta e apanhar o último combóio no derradeiro momento e sem olhar para trás,
abrir a janela e jogar tudo borda fora, 
queimar cartas e fotografias,
esquecer a voz e o cheiro, 
as mãos e a cor da pele, 
apagar a memória sem medo de a perder para sempre, 
esquecer tudo,
cada momento, 
cada minuto,
cada passo e cada palavra,
cada promessa e cada desilusão, 
atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, 
ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.


Às vezes é preciso saber renunciar, 
não aceitar,
não cooperar, 
não ouvir nem contemporizar, 
não pedir nem dar, 
não aceitar sem participar, 
sair pela porta da frente sem a fechar, 
pedir silêncio e paz e sossego, 
sem dor, 
sem tristeza e sem medo de partir.
E partir para outro mundo, 
para outro lugar,
mesmo quando o que mais queremos é ficar,
permanecer,
construir, 
investir, 
amar. 


Porque quem parte é quem sabe para onde vai, 
quem escolhe o seu caminho e 
mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, 
o sol, 
o vento,
o céu e o cheiro do mar são os nossos guias,
a única companhia,
a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira.
Quem fica,
fica a ver,
a pensar,
a meditar,
a lembrar. 
Até se conformar e um dia então esquecer.


Margarida Rebelo Pinto

Sem comentários:

Enviar um comentário