terça-feira, 11 de maio de 2010

Quanto mais difícil, mais gostoso...

Será? Lembro-me bem, quando adolescente, de ter ouvido inúmeras vezes que moça direita não é fácil. Tinha de ser difícil, porque somente assim os homens dariam valor.

Também não foram poucas as vezes em que me peguei com a dúvida cruel: o que é ser difícil? Tenho de fingir que não quero, mesmo quando quiser? Tenho de fingir que não gosto, mesmo quando gostar? E se for assim, quando devo parar de fingir?

Resumindo, decidi que não ia querer nem gostar, assim ficava mais fácil ser difícil. Claro que minha decisão não durou muito tempo. Aliás, felizmente que não... Mas daí, outra dúvida ainda maior me abraçou: e agora, como deve ser meu comportamento de moça direita que quer e - pior! - demonstra que quer???

Passei a entender, com o tempo, que esta dinâmica é muito parecida com a dos contos de fadas. A princesa não precisa fingir porque a pouca sorte de seu destino se encarrega de afastá-la do príncipe até o final da história.

Somente quando está quase acabando, eles conseguem ficar juntos. Mas imediatamente depois deste belíssimo e extasiante encontro, vêm a vaga promessa e as irritantes reticências e foram felizes para sempre.... Mas como? Como construíram esta felicidade? O que fizeram? Como se comportaram? Ela foi fácil? Foi difícil? Fingiu? Até quando?

Será que contaram a você? A mim não contaram... Tive de descobrir sozinha, vivendo, tentando, começando e terminando, e ficando com a sensação de inadequação, caretice ou até mesmo de ter sido fácil sem saber se fiz certo ou errado...

Até que a adolescência acabou e chegou a adultidade (palavrinha esquisita, bem apropriada ao que quero dizer...). Ufa, agora sim vou saber direitinho o que fazer, pensei inocentemente. Nunca soube. A dúvida sempre parece me rondar: ser fácil ou ser difícil? Dizer que não quero quando quero ou dizer que quero e pronto, deixar rolar...???

Exageros à parte, é verdade que hoje em dia se perde muito do encanto que pode haver nos encontros por conta desta neurose que toma conta do nosso ritmo interno. Tudo tem de ser agora. Fast food, fast service, fast love...

Então, penso que o ideal seria nem 8 nem 80. Nem o já, nem o fingimento. Entretanto, se agora não precisamos mais seguir um script sem sentido de moça direita, parece que ainda fica lá no fundo uma busca pelo difícil, pelo complicado, pelas relações que não fluem. Pessoas confusas, que querem, mas não querem, que dizem sim, mas fazem não, que não ficam mas também não vão...

E assim, perdidos entre o ‘fácil que não tem graça’ e o ‘difícil que não preenche’, ficamos nós, parecendo personagens de filme de comédia. Um corre atrás, o outro foge. Um foge, o outro corre atrás. Ele, tarado. Ela, frígida. Ele psicopata. Ela dependente. Quando, na verdade, bastaria que nos permitíssemos aquilo que desejamos, tão somente o que desejamos de verdade, e deixássemos rolar.

Sem essa de que tudo o que é mais difícil é mais gostoso. Isso é coisa de gente maluca!!! Por que não podemos valorizar o amor que flui naturalmente, que vai se mostrando descomplicado, disponível, comprometido? Por que parece que temos de optar sempre pela dor, pelo conflito, pelo drama que mais nos endurece do que nos amadurece?

Sugiro que apostemos mais no fácil; não porque sejamos incapazes de lidar com as dificuldades. Simplesmente porque certas dificuldades são mesmo inevitáveis. Porém, outras, especialmente aquelas referentes ao coração - que quase sempre são criadas por nós mesmos - são absolutamente evitáveis. Então, que nos permitamos desfrutar de um amor que acontece... e que abandonemos, enfim, essa teimosa mania de querer exatamente aquilo que a gente não pode ter.

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